D de Denúncia
O ministério do anonimato
Tem o prazer em anunciar
Os nomes dos candidatos
Que vou passar pois a nomear
Aqui, está em causa o cargo
De assessoria à direção
E agora, sem mais demoras
Os proponentes ao cargo são:
Fulano A, Fulano B
Beltrano C e Sicrano X
Porque hoje é o dia D
Vamos pôr os pontos nos is
Fulano A, ora bem cá está
Diz que é sobrinho do Diretor
Casado com a secretária
Do seu amigo antecessor
Fulano B, pois aqui se vê
Pelo currículo que não tem
Foi colega do presidente
De quem a sua sogra é mãe
E aqui está e aqui se vê
Como é pequeno este país
Porque hoje é o dia D
Vamos por os pontos nos is
Fulano A, Fulano B
Beltrano C e Sicrano X
Porque hoje é o dia D
Vamos pôr os pontos nos is
No ministério do anonimato
Há quem aposte em Beltrano C
Que é amante de um governante
E trata por tu muito você
Aqui, toda a gente sabe
Sicrano X é filho da mãe
Embora aparentemente
Não se aparente com ninguém
Fulano A, Fulano B
Beltrano C e Sicrano X
porque hoje é o dia D
Vamos pôr os pontos nos is
E aqui está e aqui se vê
Como é pequeno este país
Porque hoje é o dia D
Vamos por os pontos nos is
O Que Esta Gente Quer
Lá vem a malta para a rua ao que parece em protesto
Com a palavra luta e um punho em cada gesto
Eles gritam qualquer coisa
Que eu não consigo entender
Eu só me juntei a eles
Naquela de perceber
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
Com bombos e apitos, estardalhaço e muito fumo
Não sei qual o sentido o motivo ou o rumo
Quem são os mandachuvas
Eu não os consigo ver
Muito menos, com barulho,
Ouço o que estão a dizer
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
De repente um alvoroço e anda tudo aos empurrões
Quero sair e não posso entre tantos encontrões
Eu bem tento perguntar
O que está a acontecer
Só vejo bastões no ar
E a polícia a romper
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
Sou atirada para o chão e agarram-me os braços
Um joelho faz pressão, vem uma biqueira de aço
Levo um pontapé na cara
Vejo o sangue a escorrer
Põe-me num autocarro
E eu sem perceber
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
Somos muitos, estamos todos enfiados numa cela
Assustados, a gemer, agarrados às mazelas
E chamam um por um
A todos ouço dizer
Não fizeram mal nenhum
Só queriam perceber
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
O que esta gente quer?
Elefante no Hemiciclo
Ai venham ver
Ai venham ver
Ai venham ver
É monstruoso,
Gordo, balofo,
O elefante
Deselegante,
No hemiciclo
Tudo arromba
Com a sua tromba
Chega arrogante
Bruto, inconstante
Num monociclo
Veio de repente
Em pézinhos de lã
Muito insolente
Fazer da gente
Puré de maçã
Mas do paquiderme
O que se teme
Não é o que esmaga
É mais o que arrasa
Caso governe
Ai venham ver
Ai venham ver
É ver pra crer
É ver pra crer
Espalhafatoso
Muito ruidoso
O elefante
Berra bastante
No hemiciclo
Foi legalizado
E foi sufragado
Já tem assento
E o parlamento
Agora é um circo
Refrão
Elefante no Hemiciclo
Ai venham ver
Ai venham ver
Ai venham ver
É monstruoso,
Gordo, balofo,
O elefante
Deselegante,
No hemiciclo
Tudo arromba
Com a sua tromba
Chega arrogante
Bruto, inconstante
Num monociclo
Veio de repente
Em pézinhos de lã
Muito insolente
Fazer da gente
Puré de maçã
Mas do paquiderme
O que se teme
Não é o que esmaga
É mais o que arrasa
Caso governe
Ai venham ver
Ai venham ver
É ver pra crer
É ver pra crer
Espalhafatoso
Muito ruidoso
O elefante
Berra bastante
No hemiciclo
Foi legalizado
E foi sufragado
Já tem assento
E o parlamento
Agora é um circo
Refrão
Corridinho Português
Separando o africano do cigano
Do chinês, do indiano, ucraniano,
muçulmano, do romeno ou tirolês
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá
Separando o cristão do taoista,
do judeu do islamita, do ateu ou do budista,
do baptista mirandês
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá
E que tal juntar a malta numa boa
A um corridinho de Lisboa
Volta e meia e roda o par
Triste é quem fica a ver dançar
Separando o celta do visigodo,
O huno do ostrogodo, o romano do suevo, ou o mouro do gaulês
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá
Se tu queres ainda separar o gay,
Da lésbica, do straight, da mulher, gente de bem,
Ou de quem sofre de gaguez
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá
Refrão
Ora tenta separar o teu genoma,
tu tens tanto de Lisboa como de Rabat ou Doha,
tudo soma no que és
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá
Se ainda te faz muita confusão
Vai, separa o fótão do protão, do electrão
Até desvaneceres de vez
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá
E que tal juntar a malta numa boa
A um corridinho de Lisboa volta e meia e roda o par
Pois…
Político Antropófago
Crava a unha, carne, pele e osso
Ferra o dente sedente no pescoço
O político antropófago
Na tv, o banquete no palanque
Na régie, querem sangue, pedem sangue
E em casa num sarcófago
A senhora olha gulosa
P ́ra sua mulher a dias
Maria, Maria
A sua pele é tão macia
O ódio, a fúria espoleta
A gula a pernetas e manetas
O político antropófago
E, com gáudio, há quem se perfila
Se corta à fatia e mutila
E em casa num sarcófago
A senhora olha gulosa
P ́ra sua mulher a dias
Maria, Maria
A sua pele tão macia
Maria, Maria
Já se comia qualquer coisinha
É assim que marcham, carcomidos,
Arrastando as filhas e os filhos
Ao político antropófago
Num monte de restos são cuspidos
Amanhã, varridos e esquecidos
E em casa num sarcófago
Já marchava qualquer coisinha
Tenho um ratinho na barriga
Tratado de Paz
Quando a guerra acabar
Os líderes apertam as mãos
E na foto vão ficar
Muito amigos, muito irmãos
E a velha mãe no quarto
Chora pelo filho
E a jovem põe num saco
A roupa do marido
E a criança
Quer o pai
Quando a guerra acabar
Vai haver entendimento
Só de paz irá falar
Quem à guerra deu sustento
E assinam um tratado
Que ambos acordaram
No fim, será proclamado
Que todos ganharam
Mas sabemos
Quem perdeu
Nós sabemos
Quem perdeu
Testa de Ferro
Quero ser testa de ferro de um qualquer peixe graúdo
Ter amigos no governo e com eles p(h)oder tudo
Quero aliciar quem queira alinhar num cambalacho
Em troca de um pé de meia, de uma casa ou de um bom tacho
Quero ser representante do teu esquema obscuro
Inventar livros na estante, um currículo ou um curso
Eu quero ser influente, jantar com quem me convém
E se for conveniente vendo o pai e vendo a mãe
Quero pôr maços de notas em pequenos envelopes
Dar a fuga pro estrangeiro antes que alguém me tope
Quero contas na Suíça, uma casa em Paris
E chamada à justiça ser amiga do juiz
Quero ter muitos amantes, uma vida glamorosa,
Ir a festas deslumbrantes de revistas cor de rosa
Sem vergonha, arrogante, cá vou eu com pompa e estalo
Eu só quero entrar em grande pela porta do cavalo